Moçambique - Acção no Terreno I

Visitas Domiciliárias

Quando Cheguei a Mitande apercebi-me que haviam alguns leprosos com úlceras nos pés, que não eram atendidos no Centro de Saúde pela sua dificuldade em se deslocarem, ficando assim sem qualquer assistência sanitária. Assim, procurei, ao longo dos meses, saber onde se encontravam estas pessoas e, conforme a abertura e disponibilidade demonstrada pela pessoa e o seu desejo de receber visitas domiciliárias, fiz questão de lhes prestar cuidados às úlceras regularmente, visitando-as nas suas residências. 

Além das visitas domiciliárias a pessoas com lepra, visitava também outras pessoas que, por diversos motivos e/ou doenças lhes era impossível deslocarem-se ao hospital. Nestas visitas, procurava saber o estado geral de saúde e resolver, na medida do possível as questões sintomáticas e partilhar alguns bens alimentares conforme as necessidades da época e da família. 

Com a progressiva adaptação ao local e integração na comunidade, as pessoas com lepra, especialmente aquelas que residem perto da sede do Posto Administrativo, faziam questão que as visitasse regularmente.

Grupos de Autocuidado

Os grupos de autocuidado são compostos por pessoas com lepra, que, pela perda de sensibilidade das mãos e dos pés inerente à doença, precisam de ter cuidados especiais.

Quando cheguei a Mitande, tive conhecimento da existência de dois grupos de autocuidado, que estavam inactivos naquele momento por corresponder à época da colheita, momento em que as pessoas vão trabalhar na machamba. Por motivos vários, só me foi possível conhecer estes grupos em Outubro, altura em que colaborei para a sua reactivação.

Em anos anteriores, os dois grupos tinham, cada um, uma actividade económica concretizada no cultivo de amendoim, contudo, por alguns motivos pouco esclarecidos, desvio de bens e desentendimento entre os membros de cada grupo, no ano de 2013 não desenvolveram nenhuma actividade.

Quando incentivei a reactivação dos grupos, estes propuseram algumas mudanças, sendo a mais significativa a separação do grupo de Mitande-sede, composto por pessoas residentes em Mitande-sede e em Nachingueia (uma comunidade a 3km da sede), em dois grupos: Mitande e Nachingueia.
Em todos os grupos procurei incentivar a assiduidade e a responsabilidade nas reuniões, cuja periocidade os membros de cada grupo determinaram. Em cada encontro de autocuidado era realizada a lavagem dos pés, o seu amolecimento pela acção da água, a raspagem das calosidades presentes, a inspecção na busca de sinais de alerta e, por último, a lubrificação dos pés. Enquanto este processo era executado, dependendo do interesse demonstrado e das necessidades do grupo, eram discutidos assuntos de interesse geral e/ou feitos ensinos acerca de várias questões sobre a lepra.
Ao longos dos meses seguintes, trabalhei com cada grupo separadamente com vista a encontrar uma actividade económica que tivessem capacidade de executar e que fosse rentável, com vista a adquirirem, em conjunto, o dinheiro suficiente para a aquisição de produtos básicos para o autocuidado. (...)      

Fátima Santos

Comentários