Missão de Metoro

Tenho o meu coração cheio de gavetas de sorrisos, olhares, abraços, palavras, alguns dissabores, mas acima de tudo uma felicidade que não pode ser descrita. 

A missão de Metoro, transformou-se no meu país das maravilhas!  Como nos contos de fadas em que a arma mais poderosa é o amor.  Assim, aprendi que a preocupação pelo outro, a atenção aos pormenores, os conselhos e a compreensão mudam de forma mágica uma vida.

Senti que um pequeno gesto faz a diferença. Senti qual é a importância de dar tudo o que sei e descobri que sei muito mais do que sabia.  Senti que a entrega de corpo e alma não faz só sofrer, mas viver na intensidade da magia dos sentimentos. Senti que não tenho de ficar revoltada nem triste por ter tido uma vida afortunada, pois só me deu a força para ajudar.

Vi uma maioria que é esquecida pelas minorias, que não pensa no futuro pois a probabilidade de ele existir é pouca. Que luta pelo dia a dia com a paixão e o calor da terra, na esperança que esse mesmo dia lhe irá sorrir.

A gratidão que demonstram é inquantificável! Como a partilha de uma refeição… recordo a primeira vez que vivi isso e como me senti única.  Quando após uma visita a um domicílio e o tratamento de úlceras a uma “vóvó”, a família fez questão que almoçasse com eles. E num ritual bonito (contraditório em todos os aspectos de higiene) lavámos as mãos na mesma bacia e comemos da mesma panela. Acho que a palavra partilha nunca foi tão bem aplicada.

Conheci pessoas que foram marcadas pela Lepra. Leprosos que estavam adormecidos e assombrados por um passado de mágoas e injustiças e que a minha simples presença (de alguém que lhes dava atenção) relembrou--lhes todas as vitórias que viveram.  Deu-lhes, ou melhor, renasceu-lhes a força para continuarem a luta pelo que de mais precioso Deus nos deu, que é a vida!  Não vou mentir, admito que tive de ter muita persistência e paciência e muitas vezes, as infinitas horas de espera por alguém que pediu ajuda, me fizeram duvidar, se realmente a queriam. Mas já como Santa Teresa diz “confiança e fé viva mantêm a alma, pois quem crê e espera tudo alcança.”  E assim com o passar dos dias, conheci gente que se preocupa com gente, que foi procurando e encontrando vidas já esquecidas, em que as feridas da alma passaram para as feridas do corpo. E o que mais maravilhoso aprendi é que o tempo despendido a curar uma ferida física, curava uma ferida que não se via.

                         Mafalda Festa (Voluntária da APARF)

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