MOÇAMBIQUE, UMA MISSÃO COM AMOR

Em 26 de Junho de 2012, com cooperação da APARF desembarquei em Nampula, a norte de Moçambique, para dar início, como médica, a mais uma missão em Africa, a 4ª desde que pedi minha aposentadoria em 2011.

O hospital do Marrere é referência a nível de todo Distrito de Nampula no tratamento de Tuberculose, sendo que mais de 95% são portadores de VIH/SIDA. A enfermaria da Medicina2, serviço de Tisiologia, comporta mais ou menos 35 camas, homens e mulheres (somente adultos). Pessoas muito doentes, desnutridas e carenciadas de tudo, muitas com recidivas de TB pois abandonam o tratamento, o qual é totalmente de graça, por razões que a própria razão desconhece! Motivos vários, desde não terem dinheiro para se deslocarem ao Centro de tratamento ambulatório, “consultas” aos tratamentos tradicionais, ou o que é mais grave, a negação da própria doença. O que me entristecia mais era ver pessoas internadas quase a morrer. Dávamos alta com a melhoria do estado geral, já com algum aumento de peso, com indicação para continuar o tratamento ambulatório. Reinternadas após algumas semanas com agravamento, porque simplesmente abandonaram o tratamento. Tínhamos que começar tudo de novo… com agravamento das resistências aos medicamentos. Mas a alegria de ver pessoas muito doentes recuperarem sua saúde compensava todo o trabalho feito. Quando iniciei a minha missão, a enfermaria da Medicina 2 era um local em que o pessoal do hospital evitava entrar por ser um serviço de doença “má”, onde os doentes estavam sujos e desprezados. Começámos com regras básicas de higiene, como um simples banho diário, manter as camas limpas, e o chão lavado. O índice de mortalidade, nos três meses anteriores fora de 25%, e nos três meses seguintes conseguimos reduzir para 11%, o que foi uma grande vitória para todo o pessoal de saúde que trabalhava naquela enfermaria. Tudo era realizado com muito trabalho e esforço, mas com carinho e alegria por ver a melhoria que estávamos realizando. Claro que nem tudo era alegria. Mortes, tristeza, desnutrição e fome era o nosso cotidiano. Tínhamos que aprender a lidar com isso, o que não era fácil, mas lá íamos conseguindo… Foi um bom tempo aquele que passei em Marrere, tempo de aprendizagem, conhecimentos e amizade, um pôr de sol único; por detrás as montanhas sinuosas e aconchegantes, as casas típicas se desenhando em todo o território, as mangueiras cheias de mangas prontas para serem colhidas, as árvores de cajus sombreando e refrescando um pouco do calor sufocante. Saudades dos passeios entre os caminhos no meio da floresta, o tagarelar e risos das crianças, que alegremente e com muita curiosidade me acompanhavam no meu exercício diário. Ficará para sempre em meu coração!

Um obrigado bem grande à APARF, que me proporcionou mais esta maravilhosa experiência.

Zélia Bagatelli

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