SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE “Como mudam os nossos olhos”

É engraçado pensar como os nossos olhos vão mudando desde que chegamos à missão. Chegamos com o idealismo e a pureza nos olhos. Tudo o que vemos nos parece inacreditável e nos toca pela genuinidade e diferença do que estamos habituados a ver e a viver. As comparações são inevitáveis, mas começam a ser bem mais evidentes com o passar do tempo. Na chegada, os nossos olhos observam apenas coisas diferentes às quais, apesar da sensação de fascínio, temos que nos começar a habituar e a integrar na nossa forma de viver. 

Dos olhos idealistas e puros, passamos aos olhos mais críticos e analíticos. Estes olhos começam a deixar-nos entrar mais a fundo na realidade, no conhecimento verdadeiro da cultura e da sociedade. É nesta altura que as diferenças começam a ser mais evidentes e as comparações inevitáveis. Para mim esta foi a fase mais difícil, sem qualquer dúvida. Desde o esperar o que não posso ao contar com o que não devo, foi um período de adaptação de certa maneira complicado, que com as tais comparações inevitáveis se tornou mais difícil de ultrapassar.

No entanto, começando a conhecer melhor a realidade e já de certa forma integrados na forma de viver que nos rodeia, os nossos olhos começam a ver para além da sociedade e da cultura. Deixam de ser tão críticos e analíticos passando a ser mais profundos e penetrantes, ou seja, passando a entrar mais nas pessoas como seres individuais, únicos e genuínos. Cada pessoa que cruza o nosso caminho e com quem partilhamos nem que seja um pouco da nossa missão passa a ser parte de nós. É engraçado reparar como com estes olhos voltei à sensação de fascínio inicial. Cada pessoa que conheço me transforma, me enche por dentro e me surpreende (seja de uma forma positiva ou negativa). 

São as pessoas que, em oposição à cultura e sociedade, me admiram, me maravilham diariamente como se estivesse a conhecê-las pela primeira vez. Que me fazem sentir a crescer constantemente, e são de tal maneira imprevisíveis, que me fazem sempre querer entrar mais fundo. Nestas pessoas consegue perceber-se melhor o amor que Deus tem por nós. Um amor vivo, único, genuíno e incondicional, porque cada pessoa humana é ser único, surpreendente e capaz de nos fascinar a todo o momento. É esta relação com as pessoas que faz esta missão valer a pena! É esta relação com as pessoas que me faz perceber a vontade de Deus em que eu esteja aqui.

Francisca Almeida, LD
(Professora Voluntária)

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