Todos nós ao nascermos temos uma estrada a percorrer, mais ou menos longa, mais ou menos tortuosa. Durante o seu percurso encontramos inúmeras pessoas; umas mais alegres, outras mais tristes, umas que nos parecem viver em perfeita harmonia e outras em dificuldade extrema, com falta de bens essenciais, sem formação, sem cuidados de saúde, sem alimento... sem paz, sem amor, sem carinho...
Por outro lado encontramos pessoas atentas a estas situações, com vontade, não de mudar o mundo, mas de ajudar a melhorar pequenos mundos. É aí que encontramos o voluntário.
São pessoas que se atrevem a retirar a venda e a saltar o muro, a olhar para além das imagens chocantes que nos chegam diariamente através dos média. São pessoas que se esquecem de si para que o outro possa ter um pouco mais de conforto.
Há os que partem para países de missão e outros que iniciam movimentos de voluntariado nas suas terras onde fazem visitas a doentes, cuidam de idosos etc. No entanto são os voluntários que aprendem grandes lições de vida com aqueles que aparentemente não teriam nada para oferecer.
Partilho convosco uma pequena passagem vivida em terras de Moçambique onde estive como voluntária há uns anos atrás e onde uma simples avaria de carro se pode transformar em movimentos de solidariedade.
Partimos logo de manhã cedo para visitar os doentes, levar a medicação necessária, algum conforto e como sempre algum tempo extra para ouvirmos as suas histórias e claro, brincarmos com as crianças. Embora no dia anterior tivesse chovido, estava um dia lindíssimo e agradável. Ao atravessarmos caminhos onde reinava o capim e mal se via a estrada cheia de matope (argila, terra avermelhada que na época das chuvas se transforma em lama pegajosa) deparamos com grandes buracos e alguns charcos pouco profundos. Com mais ou menos dificuldade lá fomos avançando.
A determinada altura da nossa viagem, que já durava algumas horas, aventuramo-nos por um pequeno rio. Era estreito e não nos pareceu nada fundo. As pessoas da aldeia esperavam-nos, não as podíamos deixar sem a nossa visita. Avançamos e... conseguimos atravessar o rio, quero dizer, mais ou menos... O carro não era 4x4 e só passou metade! Nenhum de nós tinha força suficiente para o empurrar, ainda mais com todo aquele matope. Estávamos em pleno mato, o que fazer?
Estavam por ali perto alguns jovens que tomavam banho e mesmo sem termos dito uma única palavra vieram para nos ajudar. Não foi tarefa fácil, pois quanto mais se tentava mover o carro mais o matope nos impedia de avançar.
Finalmente, depois de muito esforço com muitos troncos e matope à mistura, conseguimos que o carro saísse daquela situação. Ficamos eternamente gratos pela ajuda que nos deram. Sem aqueles jovens jamais teríamos conseguido prosseguir a nossa viagem e chegar à tão esperada aldeia. Assim que chegamos, bastante cansados e atrasados, todos nos aguardavam com festa e cânticos, pois já há algum tempo que não era possível atravessar aquele rio. Foi um dia cheio de aventura e muita alegria onde foi possível a partilha e a solidariedade entre todos.
Quando procuramos ajudar o próximo esquecendo-nos de nós mesmos, só assim conseguimos ultrapassar as barreiras que nos vão surgindo ao longo da nossa vida.
Convido-vos a tirar a venda e a saltar o muro.
Sandra Figueiredo (Voluntária da APARF em Moçambique)
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