Sofrimento

Dor. Tristeza. Lágrimas. Silêncio. Desilusão. Descrença. Tudo faz parte do sofrimento, que todos os dias afecta milhares de pessoas neste Mundo.

Diariamente vemos e lemos nos jornais, nas revistas, na televisão, na internet, …notícias de sofrimento. Pensamos, ultimamente, que ele existe mais no Haiti e em todas as pessoas que foram afectadas pelo sismo que chocou todo o mundo mas que também apelou à generosidade e ajudas de muitos por todos os cantos do planeta. Ninguém pode ficar indiferente ao sofrimento alheio que observamos nas imagens do choro das crianças, dos feridos e doentes e a fome espelhada nos rostos; a revolta dos habitantes das cidades destruídas, a desorganização e o caos instalados…

Mas o sofrimento não existe apenas em países onde as condições de vida foram alteradas por fenómenos naturais súbitos. Existe sofrimento em todos os outros países em que as condições de vida das pessoas continuam a ser más e onde qualquer ser humano esteja a sofrer.  

Claro que o sofrimento dos leprosos me está mais presente pois estive junto destes irmãos há pouco tempo e é deles que tenho a lembrança mais recente de tudo o que vi e vivi na sua companhia. As condições de vida continuam a ser más e desiguais. A água insalubre que usam para beber, cozinhar, na higiene pessoal; a falta de saneamento básico, com dejectos e lixos urbanos a céu aberto, em qualquer esquina de rua; as doenças que proliferam destas condições de vida; a má alimentação por não terem condições económicas para adquirir alimentos ou simplesmente por não saberem utilizar de forma mais nutritiva o que já possuem na sua magra “despensa”; a falta de medicamentos e de acesso às unidades sanitárias por estarem muito longe dos doentes ou pelo mau funcionamento… Todos estes factores afectam a vida dos doentes de lepra e de todas as outras lepras, onde o sofrimento caminha junto destes irmãos diariamente.

Mas hoje já não estou no meio de Moçambique e aqui, em Portugal, também vejo sofrimento. No local onde trabalho, observo-o nos olhos dos doentes que chegam transferidos do serviço de Urgência, com dores e desconforto de várias ordens; quando estão sozinhos depois de terminadas as visitas; quando o seu estado de saúde piora; quando chegam pela primeira vez a um hospital e lhe impõem regras e deveres novos; quando o tratamento médico não melhora o seu estado já debilitado e pouco há que fazer para aliviar o seu sofrimento; quando sabem que precisam de ser operados ao coração… Partilho isto pois é junto destes doentes do foro cardíaco que trabalho agora… e vejo muito sofrimento e apreensão.

Assim o sofrimento está presente no nosso dia-a-dia. Bem gostaríamos de não ter de o encontrar na cara e nos corações dos nossos irmãos mas o sofrimento faz parte da nossa vida. É preciso enfrentá-lo com sorriso nos lábios, coragem e força nas acções que podemos desempenhar para os ajudar a melhorar as condições de vida que condicionam o seu sofrimento. Isto pode-se fazer através de uma visita e uma palavra amiga a um doente; num sorriso e um abraço a quem está a viver uma fase da vida difícil; na sensibilização para a causa do Papá Raoul Follereau e dos leprosos; numa mensagem/carta a quem precisa; …pequenos gestos ao alcance de todos e ao alcance dos nossos corações.

Vanda Barnabé

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