POR UM MUNDO SEM LEPRA

Olá família e amigos

Sai’ihali? Salama…
Desculpem antes de mais, nada dizer, mas andei muito preenchida e com visitas de Portugal… já passo a contar…

Entre os preparativos para a chegada da visita da APARF, lá andei a organizar tudo como uma boa formiguinha para que nada falhasse nas visitas e reuniões…e lá aterraram o Sr. João e o Sr. Carlos, Presidente da Direcção e membro da Mesa da Assembleia da Associação, respectivamente, em Nampula, durante 10 dias. 

Visitámos várias concentrações de doentes de lepra. Conversámos com vários doentes que estão em tratamento e que já tiveram alta. Conhecemos algumas das suas histórias e ouvimos algumas das suas preocupações,… distribuímos alguns bens essenciais como sabão, sal, pomada para úlceras, sardinhas enlatadas, pão… Tirámos fotos juntos, partilhámos uns com os outros o que temos e o que pudemos ajudar…

Visitámos a casa da Amina, a que a APARF construiu em Abril… e todos os membros da família estavam oreras (bonitos)… Tinham tomado banho e vestiam roupas novas… Estavam apresentáveis… Não é desta forma que se encontram nos outros dias e nesse domingo, além de ser o dia do Senhor, estavam cheirosos e merecidos (expressão makhua para bonito)! Desta vez, levei as visitas até às casas dos doentes antigos de lepra que costumo visitar… andámos em visitas ao domicílio, sempre carregados com as preciosas ofertas e também uns miminhos para as crianças, filhas e netos dos doentes… Como sorriram com os carrinhos e bonecas que lhes oferecemos… Na casa do Silvestre Amade (que conhece a Ir. Maria Rita Valente-Perfeito) fomos recebidos com esteiras e uma mesa coberta com capulana e um vaso de flores da machamba… Ficámos surpresos e felizes… Depois da mensagem lida pelo doente, as visitas receberam ofertas: o Sr. João recebeu um molho de canas de açúcar e o Sr. Carlos teve que segurar numa galinha que recebeu das mãos da esposa do doente… São ofertas simbólicas e preciosas pois quando chega uma visita, deve-se oferecer o que de melhor existe em casa, mesmo que a família fique sem nada para a sua próxima refeição, é assim que deve actuar um bom makhua.

A visita aos projectos da APARF abrangeu três Províncias de Moçambique e na deslocação ao distrito do Gilé (Zambézia), houve a necessidade de ultrapassar várias pontes muito rudimentares e uma delas (a da foto!) deu-me mesmo para duvidar. Mas entre as instruções de amigos e companheiros já habituados a estas andanças graças a Deus lá passámos… as rodas tiveram de entrar mesmo nas tábuas certas e não descair para os buracos… não ficassem lá presas e depois nem quero pensar como seria… bem o normal para quem conhece esta realidade africana!!! Das várias situações e locais que visitámos gostaria de vos falar do que me deixou chocada: crianças desnutridas em grau muito avançado que julgo não haver salvação possível… faz partir o coração ver aquelas carinhas de sofrimento que já nem forças têm para chorar que as mamãs aconchegam ao colo, num esforço de dar força e vida à sua criança… a realidade que vi e ouvi é difícil de aceitar: são locais onde falta tudo. Não há luz eléctrica. Água canalizada não é uma realidade para todos. A zona é pobre a nível de cereais. A mandioca é o que mais abunda mas não é nutritivo para estes pequenos. A formação das mamãs não existe. As estradas de acesso são picadas (de terra batida) e más. Fica distante da grande cidade. Todos estes factores ajudam de forma a piorar as condições para aquelas gentes e aquelas crianças… É preciso fazer formação com as mamãs, ensinar a alimentação das crianças desde cedo com os produtos existentes na zona, ajudar com a oferta de alguns suplementos ou condimentos para a sua alimentação, acompanhar o desenvolvimento e crescimento das crianças, formar mamãs que possam nas comunidades mais distantes transmitir a outras estes ensinamentos… Há tanto a fazer nesta área como noutras e não falando da lepra… que pode estar aparentemente a diminuir no distrito onde colaboro mas noutros locais e Províncias mantêm-se os números elevados! Reafirmo o que já escrevi na revista da APARF: é preciso mais pessoas generosas, com vontade de ajudar, mais voluntários para colaborar com o povo para que vakhani-vakhani (pouco a pouco) a realidade vá mudando para bem dos mais pobres e sofredores.

Deixo-vos também uma pequena lista de alguns dos nomes dos chapas (carrinhas toyotas de 9 lugares que fazem o transporte de passageiros tipo autocarro), dos taxis e dos machibombos (uma espécie de autocarro mas mais pequeno para viagens longas), que os deixarão a rir e a pensar um pouco:

- Ao destino ninguém foge
- O.V.N.I.
- Deus é Amor
- Deixem falar
- Eu quero o Amarelo (e o chapa está pintado de amarelo, de facto!)
- Confuso
- Red Devil
- Não se nega
- Força da amizade
- Don’t stress ok?!
- Eu chego
- Eu passo
- Trans Charia
- 100 % moçambicano
- Vamos

Bem, deixo-vos beijinhos e força para o início das aulas, do trabalho e das actividades…
Obrigada pelo vosso apoio e amizade

Vanda (Voluntária em Moçambique)

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