Retalhos de Ocua II

Quando se parte para uma terra de missão deve-se partir com o coração aberto

É certo que os nossos irmãos leprosos estão na nossa prioridade mas, então e os outros doentes? As crianças? E todos os que sofrem das mais variadas formas? Não podemos fechar os olhos e colocar as mãos nos bolsos à espera que tudo passe ou que outros o façam por nós.

Quando nos tocam à porta devemos abrir e escutar as suas preocupações... abrir os nossos corações. Foi assim que aconteceu num desses dias. Um simples tocar à porta e... era um casal com uma menina ao colo. A criança vinha aconchegada à mãe envolta numa capulana, com os olhitos brancos cobertos de água, as mãozitas pequeninas e os bracitos tão frágeis que ao pegar-lhe pareciam partir-se. Um caso flagrante de desnutrição.

Os pais da criança vinham magríssimos e cansados. Os pobres não tinham como alimentar a criança, a mãe tinha graves problemas e não tinha leite para a sua filha. Depois de beber um pouco de água e poderem descansar por instantes da longa viagem que tinham feito para atingirem a missão, cerca de 60 Km a pé, carregados de trouxas sob um calor abrasador, foi levada o mais rapidamente para o Hospital mais próximo, embora este fosse apenas um Centro de Saúde.

Ficou internada a soro dias que pareciam intermináveis... até que, finalmente, depois de uma visita teve alta e deixaram-na vir connosco. Ao chegar à missão, deu-se-lhe algum leite. Foi explicado aos pais como o deveriam administrar em casa e foi-lhes dado tudo o que precisavam, desde as latas de leite ao biberão.
Foi um processo lento mas gratificante. Hoje, essa criança já deu os seus primeiros passos e, como ela, aconteceu também à Ricardina, à Beatriz... e a tantas outras crianças que hoje recebem ajuda e apoio da Associação numa terra onde tudo é preciso mas, que por vezes basta que lhe abram o coração.

Sandra Figueiredo

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