Missão da Namaíta

“Sai Ihali? Salàma!”. Expressão macua para “Que tal as novidades? Tudo bem!”.

Olá amigos, venho contar-vos como têm sido os meus dias por estas terras moçambicanas.

Aqui os dias começam muito cedo…geralmente acordo com o cantar do galo ou com a chamada para a oração matinal dos fiéis muçulmanos na mesquita do bairro onde moro em Nampula, no norte do país. Vivo com as Irmãs da Apresentação de Maria num bairro da periferia da cidade, onde abundam palhotas, mercadinhos, vendedores de carvão, barracas de comércio e algumas casas de congregações religiosas, que apoiam crianças, jovens, mamãs,… que ali vivem nas áreas da educação, saúde, alimentação e outras ajudas.

De manhã cedo, cerca das 6h30 a 7h, não saio de casa para mais um dia de visita às concentrações dos doentes de lepra, sem antes receber os bons dias dados pelas crianças que moram nas palhotas junto à casa das Irmãs. Têm uns olhos e sorrisos tão vivos que espalham alegria e impelem forças e ânimo para o começo de mais um dia.

Como estou a substituir a Anabela (a voluntária que esteve a trabalhar no Programa Nacional de Controle da Tuberculose e Lepra – PNCTL- no distrito de Nampula), trabalho em conjunto com o Sr. Cássimo (enfermeiro supervisor distrital do PNCTL) e juntos seguimos para a concentração que está calendarizada para esse dia. Nem sempre os acessos são fáceis… há locais onde a estrada é alcatroada e se chega facilmente; enquanto noutros a picada é má e é preciso ter muita atenção às crianças, adultos, troncos, buracos, riachos, valas, animais, capim, pedras, latas,… antes de chegar, por vezes, ao local onde os doentes aguardam a nossa visita.

Nesta terra, ter um meio de transporte, seja ele qual for, é essencial. A carrinha que conduzo foi financiada pela APARF e é um bem fundamental. Sem este meio de transporte que utilizo não era possível aceder a locais onde nada chega, onde as pessoas nada têm e onde, por vezes, as crianças nem sequer um carro ou uma mulher de cor branca alguma vez viram! Há mesmo situações em que as crianças estão nas picadas e ao ouvirem o carro, simplesmente desaparecem ou vejo-as a correr como loucas pelo capim dentro, com medo da carrinha e de quem a conduz! Outras vezes, as crianças adoram, querem subir, querem “boleia” ou pedem que apite quando passamos nas picadas junto às suas palhotas ou / e escolas… é sempre uma festa!!!

Tenho de agradecer à APARF, aos sócios e amigos, o facto de eu ter este veículo para utilizar a favor dos doentes, pois sem ele o trabalho que faço não seria possível…

Ao chegar ao local, posto ou centro de saúde, encontro os doentes que já estão à espera, e aguardam persistentes a nossa chegada, para o início das actividades, graças à mobilização do voluntário e do enfermeiro. Organizam-se as fichas dos doentes, separam-se os doentes em tratamento dos casos suspeitos e inicia-se o trabalho. Dá-se prioridade ao enfermeiro da unidade sanitária para realizar o seu trabalho de diagnóstico, reavaliação e distribuição de medicação gratuita aos doentes.

A minha função, em conjunto com o Sr. Cássimo, passa por supervisionar as actividades de cada enfermeiro das unidades para que o PNCTL seja cumprido para benefício dos doentes de Hanseníase. Também colaboro com este enfermeiro no diagnóstico, reavaliação e distribuição da medicação, enquanto os doentes são atendidos, prestando assim o meu apoio sempre que seja necessário.

Em simultâneo, distribuo sabão e outros géneros aos doentes como forma de os ajudar e motivar, já que vivem em locais por vezes muito isolados e onde as condições de alimentação, higiene, saúde e educação não são as melhores.


Enf. Vanda Barnabé (Voluntária da APARF)

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