Voluntários da APARF em Moçambique Parte IV

ASPECTOS SÓCIO-ECONÓMICOS

A percentagem da população que, segundo os Censos de 1997, se encontrava abaixo do limiar da pobreza absoluta era de cerca de 65% na província de Nampula (a linha de pobreza absoluta em Moçambique foi calculada em 5.433,00 Meticais/dia aos preços médios no país em Abril de 97). (cerca de 35 cêntimos)

A principal ocupação da população é a agricultura de subsistência, sendo os produtos utilizados para consumo próprio e para comercialização em muito pequenas quantidades. As plantas alimentícias mais cultivadas são a mandioca, milho, sorgo (mapira), várias espécies de feijão, amendoim e arroz, não havendo o hábito de plantar árvores de fruto, à excepção da papai eira, em parte por questões culturais e em parte porque o tempo que as árvores demoram a crescer não permite às famílias que as plantam usufruir destas, uma vez que periodicamente se deslocam para habitar noutros locais. As outras árvores de fruto existentes na região são a bananeira, mangueira, cajueiro, laranjeira e limoeiro. Os animais criados para consumo doméstico são sobretudo as galinhas, os cabritos, e os porcos. No entanto, esses animais são frequentemente utilizados para comercialização no sentido de obter moeda de troca para a compra de produtos como roupa e bebidas, mais do que para consumo próprio, não contribuindo para atenuar o problema da desnutrição.

A alimentação é muito pouco variada, com fontes pobres de proteínas, a maioria das quais de origem vegetal. A base da alimentação é a mandioca, a planta mais facilmente cultivável nesta região, requerendo pouca água, criando-se em vários tipos de solo, pelo que é a fonte mais importante de calorias, embora não possua fibras, proteínas, vitaminas ou minerais essenciais.

Por conseguinte, existe um défice muito importante de proteínas, vitaminas e minerais na alimentação, sobretudo durante os meses de Novembro até ao final de Janeiro, que coincidem com o período em que as reservas do ano anterior já se esgotaram e se inicia a nova sementeira, não havendo nenhuma colheita durante esses meses. Há, portanto, muitos casos de desnutrição - marasmo e kwashiorkor - agravados ainda pelos vários tabus culturais relacionados com a alimentação (por exemplo, a interdição de as mulheres grávidas amamentarem os filhos ou de comerem determinados alimentos, como ovos - havendo a crença de que a criança nascerá sem cabelo) e agravados também pelas muitas doenças debilitantes que pululam por toda a província, como a SIDA e as suas doenças oportunistas, a malária e as parasitoses intestinais.

Há ainda o problema da conservação dos alimentos. A carne ou o peixe têm de ser consumidos de imediato, ou então são secos em péssimas condições de higiene. Os cereais são também secos e/ou fumados, ficando empobrecidos em vitaminas e minerais e dando origem a potenciais agentes cancerígenos.
Contribuindo também para a desnutrição, doenças, debilidade e pobreza, o alcoolismo é uma situação extremamente prevalente, sobretudo entre os homens, não havendo infra-estruturas, medicamentos ou pessoal com formação para a desabituação alcoólica.

CENTRO DE SAÚDE DA NAMAÍTA

Existe um único Centro de Saúde (CS) para os cerca de 40.000 habitantes da área da Namaíta (o CS de Namucaua recentemente inaugurado ainda não se encontra a funcionar por falta de equipamento e mobiliário). Os doentes que vivem mais afastados do CS têm de percorrer uma distância de cerca de 32 km a pé ou de bicicleta para receberem assistência.

Anabela Torres Alves (Enfermeira)
Patrícia Martins Lopes (Médica)

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