Murrupula

Faz hoje um mês que cheguei a Moçambique. Foi precisamente no dia 17 de Janeiro que aterrei em Maputo. Aproveito este momento para fazer um balanço de como tem sido a minha actividade em Moçambique até à presente data.

Como já referi, aterrei em Maputo no dia 17 com a Vanda onde permanecemos até ao dia 19. Apraz-me salientar a boa hospitalidade dos Missionários Combonianos em especial o irmão Martin que foi o nosso cicerone. Mostrou-nos um pouco de tudo na cidade, obras de arquitectura do passado, as novas construções, o modo de vida da população e um do seus projectos que executa numa lixeira, onde as pessoas vivem e se alimentam do lixo. É-lhes vedado o direito de serem pessoas/gente não têm papeis não podem exercer os seus direitos de cidadãos. Ele tenta a todo o custo inverter esta realidade. Conheci também a voluntária Ana Maria que nos compartilhou as suas experiências. Houve ainda tempo para irmos ao seu 16º andar contemplarmos a vista sobre a cidade.

Dia 19 aterrámos em Nampula onde nos separámos. Cada um rumou ao seu novo lar. Foi ainda nesse dia que cheguei a Murrupula já era quase noite. Mas um grupo de resistentes aguardava ansiosamente a minha chegada. Ainda não tinha saído do carro e já eles caminhavam serenamente na minha direcção cantando, em uníssono, para me felicitarem pela minha chegada.

Até ao dia 4 de Fevereiro, dia em que comecei a percorrer as várias comunidades com o enfermeiro Mário Rajá, estive num processo de reconhecimento e adaptação. Conheci algumas comunidades com o padre Jacob e deparei-me com realidades bem diferentes daquelas com as quais até então estava mais familiarizado.

Numa das comunidades, enquanto o padre Jacob tratava de assuntos relacionados com a gestão das tarefas dos seus membros, um nativo chamou-me e revelou-me uma das práticas ancestrais do seu povo, o rito de iniciação, cerimónia que marca a transição da adolescência para a idade adulta. Este homem fez questão que eu o seguisse por um carreiro afastado ligeiramente da aldeia. Deparei-me com um emaranhado de miúdos que rapidamente se ordenou ao som da sua voz. Sentaram-se rapidamente lado a lado à sombra de uns telheiros de palha. Esta voz inquietava-se e esperava ansiosamente que eu visse meticulosamente, um por um, todos os cerca de 80 miúdos pretensos futuros homens e examinasse atentamente o estado de cicatrização das suas circuncisões e, num passo de mágica, cicatrizasse a todos para poderem regressar para junto do seus familiares.

Esse dia é marcado com uma cerimónia a que eu assisti num outro dia com outros personagens.

Estes miúdos são entregues depois de um dia de jejum e uma noite sem dormir num misto religioso, num dia de grande festa.

Um dia nas comunidades
O dia começa no centro de saúde onde colaboro em parceria com o enfermeiro Rája. Às 07.00 há uma reunião com o médico e enfermeiros onde diariamente se aborda uma doença. Seguidamente há uma palestra nas imediações do Centro para os doentes que aí se encontram. Depois voltamos ao consultório para prepararmos a nossa saída não sem antes atendermos alguns doentes de tuberculose, lepra; por vezes ainda temos de fazer alguns testes de HIV antes de partirmos.

Chegados à comunidade começamos com uma palestra sobre a lepra, sarna e cuidados de higiene. Depois separamos os doentes; doentes antigos de lepra, doentes antigos de lepra com problemas na vista para posteriormente um técnico vir avaliar. Tomamos nota dos doentes com deformidades nos pés, desenhando os mesmos, casos suspeitos de lepra, doentes suspeitos de tuberculose (tosse prolongada), doentes com sarna.

Distribuímos medicamentos, sabão, por vezes algumas árvores (ainda da plantação do Paulo).

Os novos casos diagnosticados de lepra  perfazem um total de 10: Nachaca 2, Nihessiwe 3, Muchelelene 2 casos, Centro de Saúde de Tiponha 1, Cazuzo 2.

Próximas actividades
Dia 23 de Fevereiro realiza-se um encontro com todos os activistas no Centro de Saúde onde irá decorrer um almoço que irei financiar. Tenho-me apercebido da importância de existir um bom relacionamento com os activistas. Eles é que chegam aos doentes. Têm aparecido muito poucos. Desde a partida do Paulo que o projecto está praticamente parado e deixou de haver visitas às comunidades.

Até à presente data tenho uma lista de 9 pares de sapatos para comprar e entregar a doentes de lepra com deformidades.

Ricardo Leonardo (Voluntário da APARF em Moçambique)

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