África finalmente!

ÁFRICA FINALMENTE !... Desde que me conheço que este local me “chama” e depois de algum tempo a preparar a minha vinda, finalmente no dia 16 de Janeiro de 2007, em conjunto com outro voluntário da APARF, o Ricardo, iniciei a minha viagem para terras moçambicanas.

À chegada a Maputo, senti as diferenças numa cidade marcada pela presença de muitas culturas. Coabitam prédios e palhotas, mercados de rua e centros comerciais, ricos e pobres, jardins arranjados e lixo amontoado na rua, gelados e refrigerantes, cocos e bananas, … mais que tentar gostar da cidade e do que me mostraram, tentei perceber o modo de vida das pessoas daqui… e é uma forma de viver muito diferente da que estava habituada.

Um dos contrastes que me foi possível observar e vivenciar, aconteceu ao “visitar” a lixeira de Maputo, ou pelo menos um desses locais… senti algo que até então nunca tinha sentido ao ver miúdos e graúdos a vasculhar nos montes de lixo que se acumulam por várias centenas de metros. Vê-los com uma espécie de saco de rede que conseguem fabricar com o que encontram, a procurar, frenéticos, todos os restos de desperdício humano que vêm nos carros do lixo, causou-me um desconforto muito grande e uma sensação de impotência. São miúdos que não têm família, abandonados, marginalizados, desempregados, sem saber ler nem escrever, … mas com um sorriso enorme e curiosidade assim que nos avistam… Distribuímos algum pão; tirámos fotografias com eles e um dos mais pequenos chegou perto e pediu, não para lhe tirarmos uma fotografia, mas para sermos nós os modelos fotográficos! Ele tinha uma máquina de fotografia velha, sem uso, que um dia encontrou misturada no lixo… são estes e outros pequenos pormenores e acontecimentos que me fazem questionar muitas coisas que vejo e que sinto… mas mais que tudo questionar a razão pela qual ainda existem locais como esta “lixeira” cheia de vida!

De seguida, voámos até Nampula, cidade no norte do país, que em especial, me irá acolher durante algum tempo e onde me vou dedicar ao trabalho com os doentes de lepra, no Programa Nacional de Controle da Tuberculose e Lepra (PNCTL), colaborando também, sempre que possível com o Hospital Geral do Marrere (HGM), na área em que melhor me enquadre.

Também aqui em Nampula encontrei diferenças em vários aspectos como sejam o clima, a alimentação, o vestuário, a cidade, as estradas, a vegetação, … e é claro as condições de saúde deste povo. Será esta a minha área de trabalho aqui, visto que sou enfermeira desde há quatro anos.

Nas primeiras semanas, estive a acompanhar a Irmã Maria Pedrón (enfermeira) nas consultas externas do HGM. As patologias que observei foram das mais variadas e algumas bem diferentes das que estava habituada no serviço de medicina em que trabalhava no Hospital de Évora. Malária, tuberculose, HIV, diarreias, pneumonias, parasitoses, insuficiências hepáticas e cardíacas, … entre “outras doenças” como a fome, a miséria, a tristeza, a infelicidade, o desconhecimento, …aumentadas pelo estado físico da doença de cada pessoa. As condições deste hospital não são aquelas a que estava habituada em Portugal mas aqui é tudo diferente e há que “ter uma mente aberta” e tentar aproveitar e rentabilizar espaço e equipamento disponíveis. Há doentes a mais para os quartos disponíveis; há pessoas a mais para as camas a ocupar e para as consultas que se prevêem para cada dia; há doentes a mais para o número de funcionários, quer auxiliares (aqui são chamados de serventes), de enfermeiros e técnicos de saúde e médicos!

Dado que a minha actuação será prioritária no apoio aos doentes que sofrem de hanseníase, iniciei no mês de Fevereiro a minha participação no PNCTL, em colaboração com o Sr. Cássimo Martinho, enfermeiro supervisor distrital para o distrito de Nampula.

Nesta área, encontram-se vários postos e centros de saúde espalhados onde vou tentar chegar (sempre que as condições atmosféricas e as estradas o permitam!), de modo a participar nas concentrações de doentes de lepra onde se faz diagnóstico, reavaliação e fornecimento de terapêutica gratuita aos que sofrem desta doença.

Neste momento encontro-me em “integração” acompanhando o Sr. Cássimo nas concentrações, na distribuição de algum material de sensibilização sobre a lepra para os diversos postos e centros de saúde da área do distrito de Nampula e na distribuição de bicicletas fornecidas pelo PNCTL, para uso dos voluntários, visto serem estes que junto das populações identificam e incentivam os doentes a recorrer nas datas marcadas às concentrações.

Espero continuar a enviar notícias do que vou vivendo e aprendendo por estas terras de paisagens e cores lindas e onde as pessoas sorriem sempre… mesmo quando penso que certas vezes não há espaço para um sorriso!!!

Vanda Barnabé (Voluntária da APARF em Moçambique)



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