Projectos do coração da APARF em São Tomé

A ansiedade era grande porque não sabia o que me esperava nesta missão… como sempre. O interesse pessoal pelo país também, que me foi transmitido por um colega e amigo que lá viveu durante muitos anos. Foi com expectativa que pisei o país que comporta o centro do mundo, na linha imaginária do Equador que atravessa o paradisíaco Ilhéu das Rolas.

A minha estadia realizou-se na casa das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora em Guadalupe, a poucos quilómetros da capital são-tomense. Fui muito bem acolhida pelas duas Irmãs actualmente na comunidade. A Irmã Felismina, superiora da comunidade, com uma energia impressionante, muito dinâmica na elaboração e execução de projectos, e, pela Irmã Rosa, enfermeira no Centro de Saúde local e que está em São Tomé quase há 12 anos. O Centro de Saúde ocupa-lhe grande parte do dia mas a maior parte das tardes ensina lavores e costura na paróquia. Aguardavam uma terceira Irmã que chegaria em breve para colaborar na missão.

Para além das actividades próprias, as Irmãs acolhem em sua casa em regime de internamento, durante o ano lectivo, cerca de 32 raparigas dos 12 aos 20 anos. Dão apoio especialmente àquelas que vivem em roças afastadas da povoação de Guadalupe, para lhes facilitar a proximidade à escola secundária e até mesmo à faculdade (em São Tomé). Além de terem espaços onde podem estudar, aprendem a cozinhar e costurar, assim como lhes é dada formação cristã e de cidadania.

O ATL Florinhas de São Francisco é a menina dos olhos da Irmã Felismina e apoia os estudos de cerca de 60 crianças do 3.º ao 6.º ano escolar. As famílias contribuem apenas com uma propina simbólica, para as responsabilizar. Lamento não o ter visto a funcionar, iniciava as suas funções na semana seguinte ao meu regresso.

As aulas funcionam em dois turnos de manhã e tarde para as crianças que têm escola de tarde e manhã respectivamente. As instalações são muito agradáveis e funcionais. Uma das salas possui o logótipo da APARF uma vez que o ATL também foi construído com o apoio da associação, em colaboração com uma cooperação francesa.

Visitei também as Casas Sociais da Missão que são disponibilizadas a famílias carenciadas, seleccionadas pelas Irmãs e ocupadas temporariamente mediante um acordo escrito de obrigações em troca da habitação. Uma delas, ainda em fase de construção, foi apoiada pela APARF pelo valor de 5.000,00€ (P.48/2012) e 2.500,00€  (P.35/2013) para acabamento do muro envolvente.
A Nossa Senhora de Guadalupe com o menino que está na capelinha das Irmãs é uma imagem impressionante, muito bonita. A Festa de Nossa Senhora de Guadalupe foi a minha apresentação na terra, coincidiu com o fim de semana da minha chegada. É sempre um assombro os cânticos e danças que em missa de festa são ainda mais envolventes. A procissão é muito participada pelas pessoas da terra e pelos familiares que, por vezes, vêm de outras partes da ilha. O pagão e o religioso convivem amistosamente e, como tal, a animação está a cargo de grupos etnográficos e outros de música popular. O almoço no átrio da Igreja foi partilhado.

As Irmãs Teresianas que visitei em São Tomé são, na maioria, angolanas, confessaram viver com muitas dificuldades e, não esperando a minha visita, foram dum acolhimento pronto, próprio do povo africano. Têm muita consideração pela APARF e perguntaram-me como estava a aprovação do seu projeto. As Irmãs Teresianas, do Centro Teresiano de Promoção da Mulher, dedicam-se à promoção da mulher, através do acolhimento das jovens pobres e em risco, às quais prestam cuidados alimentares e de saúde, formação humana e profissional, que visa o seu crescimento pessoal e social. As Irmãs pediram ajuda à APARF para custear os encargos de alimentação, medicamentos, material escolar e informático, para as 14 meninas que têm internas. Foi recentemente aprovado um projeto de apoio ao centro pela APARF.

São Tomé tem pessoas muito diversas, oriundas de países distintos, o que conduz a tons de pele e feições muito variados. A natureza foi muito generosa com este povo e, embora possa haver carências alimentares, (...) abundam os bens comestíveis (mal explorados) como a banana, o cacaueiro, a matabala que substitui a batata, a fruta pão, outras frutas tropicais e o peixe.

As Irmãs Franciscanas, onde me alojei, foram muito disponíveis a prepararem-me pratos típicos da terra que também já é delas. Na gastronomia são tomense a banana é “rei” (têm 7 qualidades) e comem-na das mais diversas formas. A ‘tempera’ é a mistura de ervas que usam para temperar a carne e o peixe. A galinha de caril e o calulu de peixe são deliciosas apesar de fortes.

Como noutros países africanos, a informação às pessoas é veiculada pela televisão e rádio locais, como por exemplo a marcação de consultas de especialidade ou a abertura de concursos/empregos. Nas ruas há painéis pintados nas paredes dos mais diversos locais com os objetivos estabelecidos para o país pela OMS, Unicef e outras organizações mundiais.

As roças, umas mais bem conservadas que outras, reportam-nos ao passado, ao tempo da escravatura, onde empresas bem sucedidas permitiam a convivência de diversos modos de vida, uns muito abonados (os proprietários e administradores) e outros em que lhes era dada a sobrevivência (os serviçais). Muitas delas, para além de escola e capela, tinham também hospital. É pena que não tenham conseguido conservá-las!

O que posso ainda dizer é que tenciono voltar para visitar, é um país que, embora pequeno, é lindíssimo e seguro para passear, as pessoas são muito acolhedoras e com uma simpatia pronta. O melhor, os sorrisos das crianças!

Marta Faustino

Comentários