RECORDAR: DIA MUNDIAL DOS DOENTES DE LEPRA EM 2009

Janeiro. Mês que inicia o ano novo de 2009. Início das actividades lectivas, políticas, económicas, laborais e também ainda época de férias escolares, aqui nestas terras. Mês de chuvas acompanhadas de frio nuns sítios e calor intenso noutros cantos do planeta. Mês onde iniciam novos sonhos e projectos. Mês onde se começa de novo a caminhar, em especial nesta terra de Moçambique. Caminha-se para as machambas (hortas), caminha-se para o início de novas esperanças, novos sonhos, novos horizontes.

Para mim inicia-se um final. Será no dia 30 de Janeiro de 2009. O meu projecto de voluntariado, as minhas actividades junto dos doentes de lepra, a minha Missão aqui em África, Moçambique, Nampula, distrito de Rapale, Namaíta,…  terminará no fim deste mês. 

Até lá haverá muito a trabalhar nas concentrações dispersas pelo distrito onde visitámos os doentes de lepra. Início de ano, início de novo livro de registo de novos casos de doentes de lepra e com a sua abertura espera-se que menos pessoas sejam registadas em 2009. Os números de casos novos de doentes registados têm vindo a diminuir gradualmente entre 2007 e 2008, como pude constatar e acompanhar durante as actividades junto dos doentes em tratamento. Assim atrevo-me a poder prever que para este ano, os números talvez baixem ainda mais. Isso seria muito bom para o Programa Nacional de Controle de Tuberculose e Lepra (PNCTL) de Moçambique e para a APARF, mas seria muito melhor para todos os que padecem desta doença. Quanto mais pessoas forem mobilizadas pelos voluntários e comparecerem nos dias de concentração, mais rastreio e despiste será efectuado e todos os irmãos que possam ter esta doença serão diagnosticados, farão tratamento e ficarão curados, sem desenvolverem alguma vez deformidades ou mesmo mutilações, por terem atrasado ou não terem sido alertados e informados sobre a doença. É bom sentir que se está a ajudar um pouco para a diminuição da doença neste distrito, e a APARF está diariamente a colaborar para que isto aconteça, apoiando os doentes.

Para que este mês seja muito especial, já que é o último que aqui estarei junto dos leprosos, a APARF acrescentou ao habitual sabão, sal, pomada para feridas de lepra,…  a distribuição de ihipa (enxadas, em língua emakuha), como sinal de que os doentes de lepra devem ser auto-suficientes para a sua subsistência alimentar e familiar. Uma enxada significa trabalho na machamba, alimento no final da sementeira, kòvona  (barriga saciada, em emakhua), alegria no rosto. Uma enxada é um sinal de ajuda para a família desse doente. Se ele não puder trabalhar na machamba porque é criança ou idoso, porque tem deformidades / mutilações,… na família alargada que vive toda na mesma área, o irmão, o tio, o primo, o sobrinho, o filho,… alguém irá capinar, semear e colher os frutos do trabalho dessa enxada. Assim é uma oferta muito importante para os doentes. É também um bem que terá alguma duração temporal, servindo durante alguns anos se a sorte ajudar. Os restantes bens que recebem são muito importantes mas de consumo imediato. Esta enxada irá ser uma oferta especial para este mês especial de Janeiro.

Também neste mês se celebra no dia 25 de Janeiro de 2009, o Dia Mundial dos Leprosos e nada mais bonito que passá-lo junto dos doentes. A APARF vai marcar este dia tão especial e significativo fazendo com que mais pessoas conheçam a doença, a sua problemática, as deformidades/mutilações que causa, a segregação/o estigma que ainda perdura, a história das antigas Gafarias aqui na Namaíta (a 30 km de Nampula), de forma a que se espalhe informação e que as pessoas deixem de ter medo e vergonha de vir às unidades sanitárias para fazer despiste e rastreio da doença. Iremos colaborar com as autoridades de saúde locais e com o PNCTL para, em conjunto, organizar este dia da melhor forma possível. De modo a combater esta doença, iremos distribuir um pouco de sabão (um incentivo à higiene corporal e do vestuário), calendários e folhetos informativos. A APARF irá estar junto dos que realmente necessitam de uma palavra amiga, que precisam de acreditar que o amanhecer acontece todos os dias e que novas esperanças nascem diariamente. Será uma data especial para mim também e irei aproveitar ao máximo este dia junto dos “nossos doentes de lepra”. Já nos conhecem quando passo de carro pela estrada. Ouço muitos “Salama?” (Como está? Tudo bem?) quando nos deslocamos para as concentrações pelas picadas onde trabalhamos. Isto significa que o trabalho da APARF continua a ter visibilidade junto do povo, junto da população que recebe de braços abertos todas as ajudas que possam surgir, em qualquer que seja a província, o distrito, a comunidade, o cajueiro e a mangueira, onde se trabalha contra a lepra. Todo o trabalho que a APARF aqui desenvolve é importante. Mas mais importante é que seja continuado. Volto a reforçar que estes doentes precisam de pessoas, de voluntários de boa vontade, de coração aberto aos outros, de algum “espírito louco, aventureiro, desprendido, …” (por abandonar a sua vida e família no país de origem e tudo o que tinha de certo e garantido, luxos e bens), … que possam vir ensinar e ajudar este povo mas que acima de tudo tenham o coração e o espírito aberto para receberem muito mais em troca…

Obrigado por tudo o que a APARF, os Leprosos, os Amigos dos Leprosos, os Missionários que aqui convivem comigo, o Sr. Cássimo, os Voluntários do PNCTL… e todas as outras pessoas com quem convivo…me proporcionaram aqui durante este tempo de Missão e por tudo o que aprendi com “os nossos doentes”. 

Sem dúvida que muito mudou na minha vida. 

Koxukhuru vangene! (muito obrigado)
Mpakha nihiku nikina (até qualquer dia) aos nossos doentes.

Mpakha Março (até Março) para a APARF, os Amigos dos Leprosos, a minha Família e Amigos, Évora e Portugal.
Beijinhos  

Vanda (Voluntária da APARF)

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