Mecubúri: Saúde – Assistência aos doentes, Formação e Sensibilização

Comecei a trabalhar em equipa com o Enfermeiro Paulo. Juntos fomos às Concentrações de Leprosos em vários pontos do Distrito e às Escolas fazer Acções de Sensibilização sobre a lepra.

a) Concentrações de Leprosos

Nas Concentrações juntam-se os doentes por zonas de residência. Nós fazemos o registo dos doentes leprosos, a distribuição dos medicamentos, a avaliação da evolução de cada um de 3 em 3 meses, consulta de casos novos, e damos alguns esclarecimentos e conselhos sobre o tratamento, a cura e as complicações da Lepra. Nas Concentrações em que estive presente, quase sempre acompanhada pela Ir. Delfina, assim como em algumas outras, distribuímos bens essenciais à Saúde e ao melhor tratamento dos doentes de Hanseníase: sabão, açúcar, sal e mantas no tempo frio, que servem também de incentivo à continuação do tratamento. A gratidão das pessoas percebe-se no seu sorriso quando aquelas mãos em garra se estendem para receber alguma coisa.

Durante estes 15 meses de trabalho em Mecubúri (de Janeiro de 2003 a Março 2004), eu e o Enf. Paulo, tivemos “em mãos” um total de 271 doentes de hanseníase (75 PauciBacilares – Doentes com poucos bacilos causadores da Lepra –  e 196 MultiBacilares – Doentes com muitos bacilos), dos quais 130 estavam já em tratamento no início de 2003 (27 PB e 103 MB), 128 iniciaram como casos novos (47 PB e 81 MB), e 13 como reentrados (1 PB e 12 MB). Receberam alta de tratamento 160 doentes (56 PB e 104 MB), abandonaram o tratamento apenas 3 (1 PB e 2 MB), 4 faleceram por vários motivos (1 PB e 3 MB), tendo permanecido em tratamento 104 doentes (17 PB e 87 MB), no final de Março de 2004 .

b) Acções de Sensibilização

Sabem o que é a Lepra? Como se transmite? Como se manifesta? Quais as complicações? Como nos devemos defender? Como se trata? ... Muitos de vós, aposto que não sabem, assim como a grande maioria dos alunos e professores a quem falámos.

No início, quando eu cheguei a esta linda terra de missão, pensava que pelo menos professores, alunos, funcionários públicos, etc. saberiam alguma coisa sobre esta doença que tanto afecta esta nossa província de Nampula. Mas há cerca de oito meses, quando um aluno meu ia lá à Missão para ter explicações, eu vi as suas manchas, fiz-lhe o teste de sensibilidade e confirmei que tinha lepra MultiBacilar. Começou logo a fazer tratamento, e agora, passados 8 meses, as suas manchas já desapareceram quase todas e daqui a 4 meses estará curado (o tratamento dos MB é de 12 meses). 

Este caso fez-me pensar que os alunos precisam de ser informados sobre a Lepra. E assim programei, em conjunto com o Enf. Paulo, e pedindo autorização ao Director Distrital da Educação e à Directora Distrital da Saúde, uma Acção de Sensibilização para as Escolas, onde privilegiámos as Escolas com alunos mais crescidos (a partir da 5ª Classe) que nos entendem melhor.

Fomos a seis Escolas do Distrito:
- Escola Secundária de Mecubúri (da 8ª à 10ª Classe) onde falámos a cerca de 1400 alunos;
- 4 Escolas Primárias Completas (da 1ª à 7ª Classe) abrangendo cerca de 2300 alunos (EPC de Naípa - 100 alunos, EPC de Momane - 250 alunos, EPC de Mecubúri Sede - 1800 alunos, EPC de Muite - 150 alunos)
- Escola Primária n.º 1 de Mecubúri Sede (da 1ª à 5ª Classe) onde contámos com cerca de 100 alunos.

Das EPC do Distrito só ficaram a faltar duas, a que não conseguimos ir porque as condições das estradas não permitiram.

Em todas as Escolas o esquema era mais ou menos o mesmo. 
- Começávamos com uma canção (música “Todos os patinhos”):
“Todas as Crianças acabam de brincar, acabam de brincar,
Vão tomar um banho e a sua pele olhar, vão tomar um banho e a sua pele olhar.
É que é preciso a Lepra acabar, a Lepra acabar,
Se tivermos manchas é preciso tratar, se tivermos manchas é preciso tratar.”
 - Depois falávamos sobre a Lepra, mostrando imagens, dizendo como se transmite, ensinando a distinguir as manchas, explicando o tratamento e cuidados a ter, respondendo às perguntas essenciais que vos coloquei no início. E esclarecendo também que o doente de lepra pode fazer toda a vida normal em família e em sociedade, só precisa é de fazer o respectivo tratamento.
- Por fim abríamos um espaço para dúvidas e distribuíamos uns folhetos explicativos para os alunos que estavam e para os que faltavam também.

Foi uma Acção muito positiva. Os alunos gostaram e sei de alguns que chegaram a casa e logo começaram a contar tudo à sua família. Este era também um dos objectivos, uma vez que muitas vezes os filhos já ensinam os pais, porque sabem ler e os pais não. Agora estamos à espera que o número de consultas de detecção de lepra aumente e que mais doentes comecem a fazer tratamento.

Esta foi uma actividade muito agradável de fazer, e acho que até uma maneira bonita de me despedir desta gente e destas crianças tão lindas, sorridentes e carinhosas. Depois desta ida às escolas quando eu passava nos bairros ou perto da escola sempre ouvia as crianças, só por me verem passar, a falar de Lepra ou a cantar “Todas as Crianças...”.

(continua...)





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