Dia Mundial dos Doentes de Lepra

 Recordando Raoul Follereau

Não pensamos em organizar comissões pomposas e solenes, mas inúteis, nem em dar normas concretas e rígidas.

Só procuramos que, nesse dia, os cristãos, todos os cristãos, e, levados pelo exemplo, todos os homens de boa vontade, digam para si próprios:

Há no mundo milhões de doentes de lepra. 

E se fosse eu, em vez deles?

Eu saciado, bem vestido, instalado, favorecido pela sorte, que fiz eu por eles?

Cada um contribuirá com o que estiver ao seu alcance: os padres com a sua missa; as comunidades religiosas e os fiéis com as suas orações. Todos com um pensamento, um pensamento persistente e constante, um pensamento que acabe por tornar-se angústia perante esta miséria pungente e injusta entre todas as misérias do mundo.

Cada um fará o que o coração lhe pedir.

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Nas cidades e aldeias próximas de alguma leprosaria – como já tinha proposto ao longo das minhas viagens – as crianças prepararão para o «Dia dos Doentes de Lepra», canções, peças de teatro e danças.

As mães farão bolos e gulodices. E, todos juntos, irão fazer uma visita amiga aos que, durante tanto tempo, foram escorraçados.

Nesse dia o doente sentir-se-á, pelo milagre de Cristo, verdadeiramente unido a toda a Cristandade digna desse nome.

Nesse dia, mesmo torturado pela lepra, o doente deixará de ser um «leproso».

Nas outras terras serão organizadas, se possível, reuniões em que se faça sentir aos ignorantes e aos inconscientes a grande miséria daqueles que o nosso pavor egoísta condena a uma morte dupla.

Far-se-ão, eventualmente, peditórios cujo produto será destinado, de preferência, a um missionário ou a um médico natural da região que, pela sua dedicação em terras longínquas seja o orgulho de todos. E assim cada um poderá associar-se à «Batalha da Lepra» neste ou naquele sector do imenso campo de batalha, contribuindo com preciosa ajuda para qualquer dos exércitos sublimes da caridade.

Mas que, de maneira nenhuma, a preocupação de recolher meios materiais faça esquecer o essencial nesta campanha que deve ser, antes de mais nada, uma tomada de consciência lúcida e sentida das condições atrozes em que se debatem milhões de malditos, que são nossos irmãos, e uma imensa oração Àquele que, há dois mil anos, com um simples sorriso, curava os nossos pobres amigos.


Raoul Follereau

In A Única Verdade é Amar

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