Hospital – Colónia Rovisco Pais – A Leprosaria Nacional

 Localizado na vila da Tocha, local que em tempos se chamou de Leprosaria Nacional Rovisco Pais, hoje tem o nome de Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro Rovisco Pais. A sua construção, projectada pelo arquitecto Carlos Ramos sob a tutela do médico Bissaya Barreto, terminou no final dos anos 1950, tendo sido concebida para albergar os doentes de lepra. Considerada por muitos como uma condenação antecipada do doente, pretendeu-se assim ‘combater a Lepra’.

Com a descoberta do bacilo da lepra em 1873 pelo médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, procedeu--se a uma política de segregação dos doentes. Embora questões como a hereditariedade da doença e a sua forma de contágio ainda não estivessem totalmente esclarecidas, o facto é que, tal isolamento parecia resultar numa diminuição de doentes.

Em Portugal verificava-se a falta de dados. O país era incapaz de obter números fiáveis e a ausência de uma política de segregação; Portugal encontrava-se numa posição frágil em relação aos países que já tinham adoptado tais medidas.

Em 1926 foi criada a Assistência Nacional aos Tuberculosos e a Comissão de Assistência aos Leprosos, ficando conhecida como a Comissão da Lepra. No entanto, sendo uma doença já ela própria de exclusão social e a dificuldade de interpretar a sua natureza tornou o ‘seu combate’ difícil. Até que, em 1932, com o falecimento de Rovisco Pais que deixou em testamento os seus bens aos Hospitais Civis de Lisboa, permitiu canalizar fundos privados para o público, sendo possível a construção da Leprosaria Nacional à qual se atribuiu o seu nome.

A Leprosaria Nacional Rovisco Pais obedeceu a uma estrutura pavilhonar pretendendo assim classificar, dividir e separar os doentes com diferentes condições clínicas e sociais. Composta por três zonas distintas; zona sã, para residência dos funcionários; zona intermediária, para creche e preventório e a zona infectada para o isolamento – esta foi segmentada e estruturada com pavilhões iguais para os dois sexos (para evitar qualquer tipo de contacto) totalmente auto-suficientes, separados por edifícios de serviços comuns, o Hospital, Capela (com duas naves para separação dos dois sexos) e Serviços Administrativos. O espaço exterior era composto por jardins cultivados pelos doentes e obstáculos naturais, como lagoa, pedras rochosas e maciços florestais, que tinham como objectivo manter os doentes dentro do complexo dificultando a sua fuga. Mais afastados encontravam-se os núcleos familiares para ‘famílias doentes’ também eles auto-suficientes.

Ao longo do tempo foram criadas as brigadas móveis constituídas por delegados de saúde e Guarda Nacional Republicana que identificavam os doentes e emitiam um mandado de captura de forma a deslocarem os mesmos para o Hospital-Colónia Rovisco Pais. Durante os 49 anos da sua actividade foram registados cerca de 3260 processos clínicos de doentes. Entre 1976 e 1977 a doença de lepra passou a ser designada oficialmente por Doença de Hansen e trouxe consigo muitas mudanças estabelecendo o fim do internamento compulsivo de doentes.

Hoje o Centro é utilizado para reabilitação. É do conhecimento público que a APARF se dirige a esta instituição todos os anos para visitar os doentes idosos que ainda lá permanecem, para lhes levar algum conforto e alegria.

Sandra Figueiredo

(Elaboração do artigo apoiado na obra Leprosaria Nacional, publicada em 2013 pela Dafne Editora, de Paulo Providência, Vítor Matos, Ana Santos, Sandra Xavier, Emanuel Brás e Luís Quintais.)


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