Voluntariado - Mitande

Tendo em consideração o contexto socio-económico, cultural e sanitário, a minha acção no terreno, que teve uma duração total de 15 meses, de Março de 2013 a Junho de 2014, focou-se em três principais áreas: 
1. Reabilitação física, social e económica de doentes com lepra;
2. Apoio na Unidade Sanitária - Centro de Saúde de Mitande, particularmente no Serviço de Saúde Materno-Infantil;
3. Reorganização do apoio social e sanitário prestado pelo Centro Nutricional Maria Ana Mogas à população.

TRABALHO DESENVOLVIDO COM PESSOAS COM DOENÇA DE LEPRA

A considerada “doença mais antiga do mundo” está presente em cerca de 80 pessoas no Posto Administrativo de Mitande. Foi por elas que me desloquei até Moçambique, e foram elas o principal foco da minha atenção.

Tendo presente o contexto em que estas pessoas vivem, as suas principais dificuldades e obstáculos no acesso à saúde, desenvolvi actividades de vários âmbitos, nomeadamente visitas às comunidades, visitas domiciliárias, promoção e reactivação dos grupos de autocuidado, sessões de educação para a saúde e despiste de doenças dermatológicas em colaboração com o Centro de Saúde, que explorarei neste capítulo.

Visitas às comunidades
Tendo em consideração as dificuldades de transporte e as grandes distâncias que os residentes têm de percorrer entre o Centro de Saúde e algumas das comunidades onde habitam, realizei várias visitas às 11 comunidades do Posto Administrativo.

Nestas visitas eram organizadas reuniões com todos os residentes que tiveram lepra, os doentes que estavam em tratamento e suspeitas de novos casos de lepra, identificados por aqueles. Fui sempre acompanhada por um representante do Centro de Saúde, que, para além de parceiro nos cuidados de saúde, tornou possível a comunicação entre mim e a maioria dos residentes que apenas falavam o dialecto macua. Foi sobretudo o activista Manuel, representante local do Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose e a Lepra, e o enfermeiro Cinquenta, actual responsável pelo diagnóstico e tratamento de lepra no Posto Administrativo de Mitande, que me acompanharam nestas reuniões. 

As reuniões eram organizadas do seguinte modo: inicialmente fazia-se uma reunião geral, com todos os presentes, explicavam-se os objectivos da reunião e resolviam-se questões gerais; posteriormente, um a um, era ouvido de forma individual num local improvisadamente privado, acerca das suas questões de saúde; sempre que possível eram resolvidas questões sintomáticas e realizados os ensinamentos adequados conforme as necessidades apresentadas. No final, todos os presentes recebiam uma barra de sabão, como forma de incentivo e promoção da higiene pessoal.

Quando algum dos presentes apresentava feridas, era feita a sua lavagem, desinfecção e tratamento das feridas. A estes indivíduos era disponibilizado material para o tratamento das suas feridas, e ensinados e motivados para medidas de promoção de saúde que optimizassem a cicatrização da ferida.

De uma maneira geral, a população apresenta gretas nos pés devido à falta de hidratação local e inacessibilidade a calçado (confortável). Tendo em conta que a falta de hidratação pode elevar o risco de formação de úlceras nos membros da pessoa com lepra, distribuí frascos de vaselina pelos presentes em todas as reuniões.

É notória a falta de conhecimento por parte dos leprosos acerca do risco aumentado de vir a desenvolver feridas nos pés, resultado da perda de sensibilidade inerente à doença. Assim, realizei ensinos de forma individualizada às pessoas com grande risco de desenvolver úlceras, bem como abordei esse tema em todas as sessões de educação para a saúde que fiz. Quando se justificou, auxiliei as pessoas na selecção do calçado, indo com elas ao mercado escolher o calçado que melhor se adapta à sua situação e usando os recursos da APARF para financiá-los.

Fátima Santos - Mitande/Moçambique

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