Marrere - Moçambique

A Eugénia, enfermeira voluntária no Hospital de Marrere, Nampula, passa a maior parte do ano a tratar crianças desnutridas e outras, e vem cada ano estar algum tempo em Portugal com os pais e familiares. Organizou um Projecto que tem salvado muitas crianças.

Transcrevemos parte do Relatório do seu trabalho para conhecimento dos benfeitores. 

Olá amigos,

Já me encontro na aldeia a descansar e a acompanhar os meus pais. Logo que possível, deslocar-me-ei a Lisboa para os cumprimentar e falar um pouco do projecto que desenvolvo naquelas terras, com a vossa preciosa ajuda. Até lá envio o relatório acerca do trabalho desenvolvido.
Um grande abraço para todos.

Eugénia Ferreira

RELATÓRIO

A Unidade de Reabilitação Nutricional do Hospital Geral do Marrere pretende dar resposta às necessidades das CRIANÇAS EM RISCO, actuando na área preventiva e curativa e do ensino das mães para melhor cuidados aos seus filhos. Assim, na área preventiva faz vigilância das crianças expostas ao HIV, através da vigilância mensal deste grupo de crianças, dando cumprimento a todas as orientações do Plano de Prevenção de Transmissão Vertical do vírus HIV. Ainda nesta área de prevenção, apoia as mães com problemas que as impedem de alimentar adequadamente os seus filhos (mastites graves, malformações dos seios e mamilos, as crianças gémeas e mães com insuficiência de leite materno). Asseguramos ainda as necessidades nutricionais das crianças órfãs, oferecendo-lhes a oportunidade de crescerem sem privações de nutricionais. 

Na área curativa, dá resposta às crianças com desnutrição referenciadas do internamento de Pediatria, da Consulta geral ou ainda da Sala de Peso e Vacinação.

A Unidade está dotada com duas enfermeiras do Ministério da Saúde de Moçambique, duas enfermeiras voluntárias e ainda duas educadoras de pares que colaboram nalgumas actividades desenvolvidas nesta estrutura.

Damos agora conta do volume de trabalho desenvolvido desde 14 de Fevereiro até 31 de Julho de 2011, procedendo à análise do número de crianças admitidas, motivos que justificaram a sua admissão na Unidade, tipo de apoio recebido, número de crianças tratadas, número de crianças que ainda permanecem em tratamento e os recursos financeiros envolvidos.

Distribuição das crianças admitidas por mês:
                     
Janeiro ................................... 39
Fevereiro ............................... 46
Março .................................... 48
Abril ....................................... 33
Maio ...................................... 28
Junho ..................................... 17
Julho ...................................... 25
Total .................................... 236

A desnutrição afecta a maioria das crianças admitidas (43,1%), seguindo-se o grupo de crianças expostas ao HIV (16,0%) que suspenderam a alimentação materna a partir dos seis meses de idade.

A orfandade atinge um número muito grande de crianças (12,6%) sendo que a maior parte das mortes maternas acontece nos primeiros meses de vida e um número significativo destas mortes são devidas à SIDA. Muitas crianças são cuidadas por avós, com imensas dificuldades no manejo dos biberões, na sua preparação e administração. Representa um esforço enorme para estas mulheres, já cansadas da vida, que têm de fazer deslocações frequentes ao Hospital, manejar medicamentos quando as crianças adoecem e atender às necessidades das crianças durante 24 horas por dia. Há que salientar que alguns progenitores do sexo masculino, quando perdem as mães dos seus filhos assumem os cuidados ao filho órfão, situação que tem vindo a acontecer com mais frequência nos últimos anos.

Verifica-se ainda uma grande procura por parte de mães com problemas ligados à amamentação nos primeiros meses de vida o que é motivado por mastites muito graves e insuficiência de produção de leite materno (23,6%). Este grupo de crianças aumentou substancialmente este ano, pois, na cidade de Nampula, somos o único recurso para ajudar a resolver estes problemas.

Nestas situações procedemos a uma vigilância da evolução ponderal das crianças e introduzimos suplemento com leite adaptado, evitando que as crianças entrem em sofrimento com a fome.

RECURSOS FINANCEIROS 

Desde o mês de Fevereiro que o preço dos alimentos a fornecer às crianças particularmente os leites têm sofrido um forte aumento, o que elevou os custos envolvidos. A desvalorização do euro também veio agravar bastante a situação.

O custo de uma criança com leite adaptado (lactogen 1) aumentou de 25 para 27 euros.

O montante necessário para alimentar uma criança com mais de 6 até aos 9 meses aumentou de 18,5 euros para 22,95 euros. A alimentação de uma criança a partir dos 9 meses de idade aumentou de 13 para 14,5 euros por mês.

Estão ainda em tratamento 166 crianças assim distribuídas:

0  aos 6 meses ....................... 36
6  aos 9 meses ....................... 32
mais de 9 meses .................... 98

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