NELSON - O MEU MENINO GAIATO - Parte I

Em 2003, ainda antes do meu ano de finalista de Medicina, parti em voluntariado para a Casa do Gaiato de Maputo. E no meio da savana, entre o trabalho no Centro de Saúde e as noites com os meninos do orfanato havia o jantar com o senhor Padre José Maria e os outros voluntários da casa. Eram todos pessoas fascinantes, que me acolheram desde a primeira hora. Acabei por fazer uma amizade especial com a Tia Cármen, uma entusiástica voluntária espanhola, antiga empresária e viúva de um português, que há mais de dois anos deixava os filhos e os netos durante o ano lectivo para ir para a Casa do Gaiato dar aulas de pintura e expressão plástica. 

Na minha perspectiva, a Tia Cármen tinha vindo para ser a avó da casa, a figura de referência que os meninos, sendo órfãos, não tinham. Uma avó autêntica, com uma insuficiência cardíaca ligeira, uma doença pulmonar obstrutiva crónica que me deu trabalho controlar e, sobretudo, com uma enorme paixão pelos mais pequenos e com uma missão auto-proclamada, que era deixá-los ser meninos e ajudá-los a brincar. Afirmava com muita graça que havia dois tipos de voluntários em África, os que se dedicavam ao ensino, à saúde e ao desenvolvimento económico-social e os que se dedicavam a construir infra-estruturas. Mas ela não tinha vindo para uma coisa nem para outra. Tinha vindo para incentivar os seus meninos a sonhar e apoiar os seus sonhos porque acreditava piamente que só a expressão dos sentimentos fazia crescer. Sobretudo para aqueles meninos tão pequenos e que já tinham sofrido tanto. “Porque sem sonhos não há desenvolvimento e sem entusiasmo não há trabalho!”, terminava. 

(continua...)

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