Voluntários da APARF em Moçambique Parte II

HABITAÇÃO E ABASTECIMENTO DE
ÁGUA E ENERGIA

O tipo de habitação é quase exclusivamente o tradicional, com paredes em matope, telhado em capim, pavimento de terra, com uma ou duas aberturas e uma a quatro divisões numa área coberta muito reduzida. O mobiliário é praticamente inexistente, dormindo as pessoas sobre uma esteira ou, por vezes, em cama manufacturada artesanalmente com capim e bambu.

Na cultura Macua, a habitação não é encarada como estrutura permanente, onde a família se fixa durante muitos anos, pois as condições ambientais conduzem à degradação rápida das casas ao longo de 3 a 5 anos, colocando os habitantes em risco caso não seja construída uma nova habitação. Outro factor que leva as famílias a mudar periodicamente de residência e que, não havendo o hábito de adubar ou estrumar a terra, os nutrientes do solo esgotam-se de uma forma relativamente rápida, pelo que as pessoas se deslocam para outros locais, a fim de encontrar solos mais férteis para cultivo.
Por vezes, nas imediações da habitação, existe uma latrina, com ou sem fossa cavada directamente na terra, mas muitas vezes as pessoas deslocam-se ao mato para urinar ou defecar, pelo que na estação das chuvas, a água escoa em superfície livre para os cursos de água muitas vezes transporta agentes infecciosos gastrointestinais, potenciando os surtos de disenteria e cólera.
Os ratos, os mosquitos, as moscas e os morcegos são um problema grave, atraídos pela comida mal acondicionada, pelo lixo e latrinas a céu aberto, não existindo, na maior parte das vezes, barreiras físicas à sua entrada nas habitações (porta, janela, redes mosquiteiras), sendo vectores de doenças como as gastroenterites, malária, filaríase, míase, e raiva.

A área da Namaíta não possui energia eléctrica, embora exista rede de telefone móvel de sinal inconstante e pouco fiável e emissora de rádio. São quase exclusivas as fontes de energia de muito baixo rendimento: a lenha e o carvão, este último produzido artesanalmente a partir de árvores cortadas, o que, apesar de ser uma fonte importante de rendimento para muitas famílias pelo seu valor comercial, constitui um potencial contribuinte para a desertificação por estas árvores não serem plantadas novamente. Está, no entanto, prevista, a breve trecho, a chegada de electricidade à Namaíta (energia com origem na Barragem de Cahora Bassa), ficando na mesma linha de electricidade que irá fornecer o distrito de Murrupula. O edifício principal do CS (onde está incluída a enfermaria e a Maternidade) dispõe de instalação eléctrica e de um gerador a gasolina, mas que se encontra avariado desde há mais de três meses. 

Segundo a informação do Administrador do distrito de Nampula-Rapale, a área da Namaíta possui dezasseis pontos de abastecimento de água (treze poços e três furos, cinco dos quais operacionais e onze avariados), não se dispondo de informação sobre a qualidade da água. Os rios principais que atravessam a área são os rios Meluli e Namaíta. Os poços artesanais e os cursos de água são os pontos de abastecimento primordiais por parte da população em geral, e a água é utilizada para beber, cozinhar, lavagem do corpo, lavagem da roupa e despejos. A falta de acesso à água, sobretudo durante a estação seca, está na origem das péssimas condições de salubridade em que vive a maior parte das famílias e a má utilização dos recursos hídricos é fonte de muitas doenças, como a bilharziose, gastroenterites, disenterias, cólera, malária, etc, sobretudo durante a estação das chuvas. 

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