Os olhos de Celestino

Estou, depois de uma curta paragem em Portugal, de volta à aldeia de Mahipa. O meu trabalho com os doentes de lepra continua e infelizmente o número vai aumentando a cada visita às comunidades, sendo o seu número neste momento de 221 doentes. Vamos tentando fazer o melhor possível...

Mas, como não poderia deixar de ser, aqui é impossível ficar indiferente aos mais pequeninos... por isso sempre que possível vou um pouco à escolinha e é ver crianças por todo o lado. A escolinha da missão tem 52 crianças, onde aprendem, brincam e tomam uma refeição diária, talvez mesmo a única refeição que irão tomar durante todo o dia.

Uma dessas crianças é o Celestino. O Celestino tem uma história um pouco particular: tem 4 anos e perdeu a mãe aos 2. O pai juntou-se com outra mulher com quem tem outros filhos e o Celestino, esse ficou esquecido... recordo-me que quando aqui cheguei ele não falava com ninguém, escondia-se de todos e era vê-lo sempre sozinho... Hoje, ao frequentar a escolinha da missão tem-se, pouco a pouco aproximando das pessoas e começa mesmo a ter amigos!

Certo, anda sempre muito sujinho pois, não tem o cuidado que deveria ter em casa, mas mesmo assim é impossível não lhe pegar, não o abraçar, não lhe fazer uma carícia...

Estas crianças, este povo dá-nos que pensar... quando vou dar pequenos passeios a pé pela aldeia, parece sempre dia de festa. Todos se cumprimentam, as crianças seguem-nos atentas e sempre à espera de um sorriso, um aperto de mão, de uma carícia, de um simples “Salama!”*... Por vezes ando com 5 a 6 crianças em cada mão! Tenho, como devem calcular muita dificuldade em comunicar-me com elas, pois a língua que aqui se fala é o macua, mas, por vezes um olhar, um sorriso vale milhões de palavras...

Sandra Figueiredo



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