Fome? Sim, muita, mas não só.

Hospital do Chibuto - Moçambique

Têm um olhar cheio de uma tristeza do tamanho do mundo, um mundo de silêncio e de dor. Aqueles corpinhos pequeninos são habitados por órgãos cuja função mal se cumpre; o fígado, o pâncreas, o baço, os intestinos, o coração, os pulmões... nada funciona devidamente! Não o dizem mas sabemos que tudo lhes dói. Por isso se isolam e reagem mal a qualquer aproximação. Muitos recusam-se a comer como se já tivessem desistido de viver. A pele é tão enrugada como a dos velhinhos e das barrigas imensas, emergem ossos que se chamam braços e pernas. O peso, é o de recém-nascidos. São as crianças mal nutridas.

Fome? Sim, muita, mas não só.

Uma grande parte destas crianças perdeu as mães – abandono ou morte (Sida) – ou foram subitamente desmamadas porque outra criança as substituiu. A parte afectiva aliada à fome, deu origem à má nutrição. É preciso alimentá-las progressivamente – são tão frágeis! – e enchê-las de Amor. Morrem muitas: chegaram tarde... Mas outras recuperam de uma forma fantástica! Quando voltam para casa não parecem as mesmas, sabem comer, rir e brincar, são de novo CRIANÇAS!

E, depois de receberem tanto Amor, talvez venham a ser os Homens que, no futuro, não permitirão a existência de um mundo onde a má nutrição tenha lugar. Quem sabe?

Eu apenas sei que choro muito: de dor, sempre que morre uma criança (nunca me conformo): de alegria quando as mães vão mostrar como os seus filhos estão a crescer.

E também sei que as lágrimas de alegria são devidas à solidariedade dos Amigos e ao grande apoio da APARF tão presente neste projecto. KHANIMAMBO! OBRIGADA! Do mais fundo do coração.

Ana Maria

(Voluntária da APARF)


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