Queridos Amigos dos Leprosos
“Ehali? Salama?” (Novidades? Tudo
bem?)
Escrevo de novo para vos dar
novidades sobre o trabalho que vou desenvolvendo nesta linda terra de
Moçambique, onde a Lua não é mentirosa (em C ela cresce e em D ela diminui).
Deixem que vos conte um episódio
concreto desta minha aventura: No dia 14 de Maio fomos à concentração dos
Leprosos em Marririmue, que desde Janeiro esperavam a nossa visita, mas as
chuvas, que dificultavam os caminhos, não nos deixavam lá chegar. Chegámos lá e
dividimos trabalho, o Enf. Paulo atendia os doentes em tratamento e via quem ia
ter alta, e eu consultava os casos novos ou quem suspeitava de alguma mancha.
E assim foi, comecei a consultar
primeiro as mamãs, papás e crianças que há muito tempo suspeitavam de suas
manchas, mas que eram manchas que davam comichão e escamavam, o que não
acontece nas manchas de lepra. Depois, e como estávamos ao lado da escola
primária, começavam a vir crianças com ou sem manchas, mas que só queriam ser
vistas por “mucunha” (branca), e já ficavam felizes se eu lhes desse 5 minutos
de atenção. Consultei nessa manhã cerca de 20 pessoas, examinando
cuidadosamente e com carinho cada uma delas, conversando um pouco em macua e um
pouco em português (com ajuda de tradutor). Vi muitos rostos e muitos sorrisos
e muita gente contente por estar livre da doença. Fiquei satisfeita por ver
tanta gente sensibilizada para observar as suas manchas. E felizmente nenhuma
destas 20 pessoas tinha lepra. Naquela zona os casos novos estão a diminuir
graças ao trabalho do voluntário da saúde, que todos os meses vem a Mecubúri
buscar os medicamentos e o sabão, e carrega tudo na sua bicicleta andando cerca
de 30 Km para cada lado.
Mesmo assim, no fim do 1º
Trimestre de 2003, as nossas estatísticas indicaram mais de 100 doentes em
tratamento, só no Distrito de Mecubúri, com mais entradas de casos novos do que
saídas de doentes com alta.
É urgente continuar a incentivar
os doentes para o tratamento, e por isso agora que começou o frio estamos a
distribuir mantas, e é necessário dinamizar os próprios Leprosos para a
observação das suas famílias.
E porque sozinha não consigo
pensar e dinamizar tudo, esta semana estou a frequentar uma semana de Estudos
sobre a Igreja e a Pastoral da Saúde, com o P. Vítor Feytor Pinto e o P. Aires
Gameiro, dois oradores muito bons e cativantes.
Penso que isto me vai ajudar a
desenvolver novos trabalhos e dinâmicas com os nossos irmãos Leprosos, não só
alimentada pela riqueza do curso mas também pela troca de experiências com
outros missionários e concretamente com um representante da ALEMO – Associação
de Leprosos de Moçambique, que em Pemba fazem um grande trabalho de reinserção.
Conto também com o vosso apoio,
quer físico, se alguém quiser mandar sugestões, vir fazer-me companhia ou
substituir-me quando me for embora; quer espiritual, com a vossa oração.
Um muito obrigada a todos e
“tá-tá” (Adeus).
Vossa amiga Ana Margarida Azevedo
(Voluntária da APARF)
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